Em um artigo publicado anteriormente, Por que o verdadeiro cristão precisa congregar, vimos que participar da comunhão dos santos não é uma escolha opcional, mas uma necessidade espiritual para todos aqueles que foram regenerados por Cristo. A fé cristã não é vivida de forma isolada, porque o próprio Deus chamou o seu povo para viver em comunhão.
Agora, vamos avançar um passo além: por que congregar faz parte do plano de Deus para nossa santificação? Em outras palavras, quais são os benefícios espirituais e práticos que o Senhor concede àqueles que se unem de forma fiel e comprometida à Sua igreja local?
Hebreus 10.24–25 nos exorta: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns; pelo contrário, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” (NAA)
O ato de congregar é um meio ordinário de graça, ou seja, uma das maneiras pelas quais Deus santifica, fortalece e preserva o Seu povo até o dia de Cristo.
1. Congregamos por obediência e compromisso com o corpo de Cristo
A fé verdadeira sempre se manifesta em obediência à Palavra. Quando o autor de Hebreus adverte contra o abandono das reuniões, ele não fala de uma mera prática religiosa, mas de uma expressão de compromisso com Cristo e com o Seu corpo.
Ser membro de uma igreja local é uma consequência natural da salvação. Como ensina a Confissão de Fé de Westminster (Cap XXV, item II), fora da igreja visível “não há possibilidade ordinária de salvação”. Isso não significa que a igreja salva, mas que Deus decidiu operar a salvação e o crescimento espiritual dentro da comunidade da fé.
Em um tempo em que muitos se dizem cristãos, mas evitam compromissos, a membresia e a vida em comunhão se tornam um testemunho poderoso de fidelidade. Assim como um ramo separado da videira seca rapidamente (Jo 15.4-6), um cristão isolado perde vitalidade espiritual. Congregamos, portanto, não apenas por dever, mas por amor àquele que nos uniu a um corpo visível e vivo: a Igreja.
2. Congregamos para crescer sob a autoridade e o cuidado espiritual
Deus concedeu à Sua igreja pastores e presbíteros para cuidar das almas (Hb 13.17). Submeter-se à liderança espiritual não é sinal de fraqueza, mas de confiança na providência de Deus.
A vida em comunidade nos protege do orgulho e da autossuficiência, pois nos coloca em constante exercício de humildade, escuta e correção. A santificação não acontece no isolamento, mas na convivência diária, onde aprendemos a amar, perdoar, suportar e servir.
Martyn Lloyd-Jones observou que “a santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser segundo a imagem de Deus, e somos cada vez mais habilitados a morrer para o pecado e viver para a justiça“. Ou seja, não se trata de um evento místico isolado, mas o processo contínuo. E nesse processo Deus usa pessoas e circunstâncias para moldar o caráter de Cristo em nós. E a principal dessas circunstâncias é a vida na igreja. Na comunhão dos santos, somos instruídos, confrontados e consolados. Os líderes podem nos advertir com amor, e os irmãos podem nos exortar e encorajar. Como diz Provérbios 27.17: “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro.” É exatamente assim no meio do povo de Deus quando congregados.
3. Congregamos para exercer nossos dons e servir ao próximo
Todo crente recebeu dons espirituais para edificar a igreja (1Co 12.4–7). Congregamos, portanto, não apenas para receber, mas para servir. Quando a membresia é levada a sério, cada membro se reconhece como um instrumento de Deus no corpo.
A comunhão dos santos é o ambiente onde nossos dons florescem. O ensino, o serviço, a hospitalidade, a música, a diaconia, todos são ministérios que refletem a multiforme graça de Deus (1Pe 4.10).
Na igreja, o Espírito Santo opera de modo coletivo e ordenado, produzindo frutos visíveis de amor e boas obras. Quando nos engajamos com fidelidade, experimentamos a alegria de participar do que Deus está fazendo no mundo.
4. Congregamos para experimentar a disciplina e a correção amorosa
A disciplina eclesiástica, longe de ser algo negativo, é um dos grandes benefícios espirituais da membresia. O crente que vive em comunidade está protegido pela amorosa correção dos irmãos e dos líderes, conforme o ensino de Hebreus 12.5–6: “Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem desanimes quando por ele és repreendido; porque o Senhor corrige a quem ama.”
Na igreja, aprendemos a prestar contas, a confessar nossos pecados, a receber exortação e a caminhar em arrependimento. Isso é santificação em ação! Um cristão sem igreja é como uma ovelha sem pastor — vulnerável às tentações e às falsas doutrinas. A comunidade da fé é o ambiente onde Deus nos disciplina com graça e nos molda à imagem de Cristo.
5. Congregamos para desfrutar dos privilégios da comunhão
A vida da igreja é uma antecipação do céu. Ali, Deus nos concede meios de graça: a pregação da Palavra, os sacramentos, a oração comunitária, o louvor congregacional e o cuidado mútuo. Esses elementos, simples aos olhos do mundo, são os instrumentos pelos quais o Espírito Santo nos fortalece.
Calvino dizia que “a igreja é a mãe de todos os crentes”, porque é nela que somos nutridos espiritualmente. A comunhão cristã nos lembra que não estamos sozinhos na caminhada — somos parte de um povo redimido, chamado das trevas para a luz (1Pe 2.9). Congregar é participar dessa alegria celestial ainda em meio às imperfeições da terra.
Conclusão
Congregar não é apenas comparecer a um culto, mas viver em aliança com Deus e com Seu povo. A igreja local é o ambiente que o Senhor estabeleceu para o crescimento, a correção e o consolo dos seus filhos.
Aqueles que se mantêm afastados da comunhão se privam dos meios de graça e se colocam em risco espiritual. Por isso, o chamado bíblico é claro: “Permanecei firmes, inabaláveis, e sempre abundantes na obra do Senhor.” (1Co 15.58)
A santificação é um processo coletivo. Deus nos transforma não apenas por meio de Sua Palavra, mas também por meio do convívio com os irmãos. Congregando, somos afiados, curados, confrontados e consolados. Por isso, honre a Cristo sendo parte ativa da Sua igreja. A comunhão dos santos é o solo onde floresce a santidade dos filhos de Deus.
Rômulo Nunes ( www.teologiasaudavel.com.br )