Texto base: Gálatas 6.6-10 – NAA
Vivemos dias em que fazer o bem parece ter se tornado um desafio. As recompensas são escassas, os reconhecimentos ainda mais raros, e o mal, muitas vezes, parece prosperar com mais facilidade. O apóstolo Paulo, ao concluir sua carta aos Gálatas, nos oferece conselhos práticos e preciosos sobre a vida cristã, como resultado do verdadeiro Evangelho.
Nos capítulos 5 e 6, Paulo sai do campo doutrinário e parte para aplicações concretas: como o Evangelho transforma a vida do indivíduo (5.16–26) e como transforma a vida em comunidade (6.1–5). Agora, nos versículos 6 a 10, ele introduz um princípio espiritual profundo, que afeta todas as áreas da vida cristã: o princípio da semeadura. É nesse contexto que somos chamados a “fazer o bem”.
Mas o que significa isso, biblicamente? Para quem devemos fazer o bem? E por quê?
A resposta bíblica é clara: Deus nos chama a fazer o bem, mesmo em um mundo mau, e apesar da luta que ainda habita em nós, por causa da nossa natureza. Olhemos atentamente para o texto e vejamos para quem e por que devemos agir assim.
1. Devemos fazer o bem àqueles que nos instruem na Palavra (v.6)
“Mas aquele que está sendo instruído na palavra reparta todas as coisas boas com aquele que o instrui.”
Aqui, Paulo destaca uma relação muitas vezes esquecida: entre quem ensina e quem aprende a Palavra. Há um contraste evidente com o verso 1, onde ele exorta os espirituais a restaurar o irmão caído. Agora, ele trata do cuidado para com quem nos ensina fielmente.
Vivemos tempos em que muitos rejeitam correção (cf. Gálatas 4.16–17) e, por isso, facilmente se afastam do verdadeiro Evangelho. Sustentar aqueles que se dedicam ao ensino fiel da Palavra não é apenas uma questão de generosidade, mas de compromisso com a verdade. Como Paulo diz aos filipenses: “Fizeste bem, associando-vos na minha tribulação” (Fp 4.14). Apoiar os ministros fiéis é investir na pureza do Evangelho.
Também é necessário lembrar que este ensino surge em meio a muitos abusos. O princípio aqui não é sustentar qualquer um que fale de Deus, mas aqueles que instruem na Palavra, e o fazem com fidelidade, mesmo que isso os leve ao confronto com o erro.
Para finalizar este ponto, medite na seguinte aplicação: Valorize quem ensina a verdade com amor e firmeza. Lembre-se de que Jesus enviou os setenta discípulos com autoridade e dependentes da hospitalidade dos fiéis (Lc 10.7).
2. Devemos fazer o bem a todos — começando pela família da fé (v.9-10)
“E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.”
Paulo nos exorta à perseverança. Fazer o bem pode ser cansativo, especialmente quando não vemos resultados ou quando as pessoas não retribuem. Mas ele nos lembra: há um tempo certo para colher, e esse tempo pertence a Deus.
Note a ordem: “a todos… mas principalmente aos da família da fé”. É mais fácil ser gentil com estranhos do que com irmãos que nos conhecem de perto. Contudo, é na vida comunitária que o verdadeiro Evangelho se revela. Fazer o bem inclui o cuidado material, sim, mas envolve também obediência, perdão, ensino, apoio, consolo e exortação.
Não desanime. Talvez você esteja cansado de perdoar, de servir ou de esperar frutos. Mas lembre-se: o tempo da colheita pertence ao Senhor, e Ele nunca se atrasa.
3. Devemos fazer o bem considerando o princípio da semeadura (v.7-8)
“Não se enganem: de Deus não se zomba. Pois aquilo que a pessoa semear, isso também colherá. Quem semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna.” Aqui, Paulo nos lembra de algo importante: nossas ações têm consequências. Deus não pode ser enganado. A semeadura espiritual é um reflexo da nossa fé — e também do tipo de evangelho em que cremos. Paulo retoma o que já havia ensinado no capítulo 5, sobre as obras da carne e o fruto do Espírito.
A vida cristã não é marcada por um moralismo seco, mas por uma nova natureza, que se manifesta em escolhas práticas. Semear para o Espírito é viver com base no Evangelho e cultivar aquilo que vem de Deus. Já semear para a carne é confiar em si mesmo, viver pelas paixões e colher, inevitavelmente, destruição. Há aqui dois tipos de semeadura, dois tipos de solo e dois tipos de colheita. A colheita da carne é corrupção. A do Espírito é vida — agora e por toda a eternidade.
Pare e examine a sua vida. Peça a Deus ajuda ao examiná-la. Depois disso, responda: Que tipo de sementes você tem lançado? Que tipo de colheita espera? Lembre-se: o que semeamos hoje revela o tipo de fé que professamos.
Conclusão
Fazer o bem não é apenas um chamado moral, é uma consequência da nova vida em Cristo. O Evangelho que Paulo anunciou aos gálatas — e que permanece verdadeiro para nós — nos convida a viver pela fé, amar com sinceridade, sustentar aqueles que nos instruem, servir aos irmãos e caminhar sem desanimar. E esse bem que fazemos não nasce de nós mesmos, mas da obra do Espírito em nós. Como disse Martinho Lutero: “A fé verdadeira não fica ociosa; ela sempre gera frutos.”
Portanto, enquanto tivermos oportunidade, sejamos semeadores fiéis. Deus, que conhece todas as coisas, nos recompensará a seu tempo. E, mais importante do que a recompensa, é saber que estamos vivendo como luz para o mundo. Somos testemunhas do Cristo que semeou Sua vida para nos dar a eternidade.
Rev. Aldo Marcos Teixeira