Texto base: Mateus 7.13-14

A vida é, essencialmente, uma sequência de escolhas. Algumas são simples, como o que vamos comer no almoço. Outras, no entanto, moldam o nosso destino eterno. O mundo nos oferece muitas portas e caminhos — e quase sempre, os mais largos e convidativos parecem ser os melhores. Mas a lógica do Reino de Deus é outra: nela, perder é ganhar (Mt 10.39), o fraco é forte (2 Co 12.10), o difícil leva à vida (Mt 7.14), e a morte nesta vida nos conduz à ressurreição (Rm 6.5).

Jesus, ao final do Sermão do Monte — uma das mensagens mais conhecidas e transformadoras das Escrituras — apresenta uma escolha radical: entrar pela porta estreita e andar por um caminho apertado. Ele fala diretamente aos seus discípulos, aqueles que foram chamados para viver de maneira diferente do mundo.

Neste texto, somos confrontados com uma verdade que precisa ser encarada de frente: o discipulado é um chamado para andar por um caminho que poucos escolhem, mas que conduz à vida.

Vamos refletir sobre três perguntas fundamentais que esse texto nos levanta: o que significa entrar pela porta estreita? Quais são as consequências disso? E o que é necessário para seguir por esse caminho até o fim?

1. O que significa entrar pela porta estreita?

Jesus é claro: “Entrem pela porta estreita” (Mt 7.13). E Ele mesmo afirma: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, será salvo” (Jo 10.9). A porta estreita é o próprio Cristo. É por meio Dele — e somente por Ele — que alguém pode ter acesso à salvação e iniciar a jornada do discipulado.

Entrar por essa porta é reconhecer que fomos alcançados pela Graça e, por isso, somos chamados a seguir a Jesus negando a nós mesmos (Lc 9.23-24). O caminho que se segue após essa entrada é estreito, não por falta de espaço, mas porque exige santidade, arrependimento, renúncia e dependência total de Deus.

Jesus disse que “são poucos os que acertam com ela” (Mt 7.14), porque poucos são os que realmente foram transformados para desejá-la. É a escolha que nasce de um coração regenerado, que compreende que não há outro caminho — Ele é o único (Jo 14.6).

Em contraste, a porta larga representa a escolha natural do homem em sua condição caída: liberdade sem limites, vida sem compromisso, religião sem cruz. É onde a maioria entra — não por engano, mas por escolha.

2. Quais são as consequências de cada caminho?

O caminho estreito do discipulado é cheio de alegrias verdadeiras, mas também de desafios constantes. Ele exige comprometimento, autonegação e disposição para enfrentar perseguições por causa da fé. É um caminho de renúncia, mas que conduz à verdadeira vida (Mt 16.24-25).

Por outro lado, o caminho largo — aquele que a maioria percorre — oferece prazeres momentâneos, promessas de liberdade e uma sensação enganosa de paz. Mas seu fim é destruição. É o caminho do “deixa a vida me levar”, que ignora o senhorio de Cristo e vive de acordo com os próprios desejos.

Jesus não está falando apenas de estilos de vida diferentes, mas de destinos eternos opostos: um leva à vida; o outro, à perdição. E nem sempre o caminho certo é o mais popular. Aliás, quase nunca é. Boas escolhas, no Reino de Deus, geralmente nos colocam na contramão do mundo.

3. O que é necessário para seguir por esse caminho até o fim?

Se a porta é Cristo e o caminho é o discipulado, a pergunta é: como permanecer nesse caminho? A resposta passa por três atitudes fundamentais: obediência, santificação e perseverança.

Obediência é o que mantém nossos pés firmes na direção certa. Não à toa, o povo de Deus no Antigo Testamento foi constantemente advertido a não seguir outros deuses (1 Rs 18.21). Obedecer é resistir à tentação de sair do caminho.

Santificação é o processo pelo qual vamos nos tornando mais parecidos com Cristo. “Sede santos, porque Eu sou santo” (1 Pe 1.16). A santidade não é uma opção para quem entrou pela porta estreita — é a evidência de que entramos por ela.

E a perseverança é a força que nos sustenta quando o caminho se torna difícil — e ele certamente vai. O autor de Hebreus nos encoraja: “Considerem atentamente aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem desanimem” (Hb 12.3).

Conclusão

Jesus não nos convida apenas a uma porta, mas a um caminho. Ele nos escolheu, nos regenerou, e agora nos ordena: entrem e andem. O caminho do discipulado não é fácil, mas é o único que leva à vida.

No entanto, precisamos estar alertas: o caminho estreito não está livre de perigos. Há armadilhas, distrações e desvios por toda parte. Assim como Cristão, personagem de O Peregrino, muitos são tentados a sair da trilha por caminhos aparentemente mais fáceis, como o “Campo da Preguiça”, o “Castelo da Dúvida” ou mesmo a temida “Feira da Vaidade”. São alegorias, mas retratam verdades espirituais: o inimigo de nossas almas e a nossa velha natureza pecaminosa trabalham incansavelmente para nos afastar da rota. Por isso, precisamos caminhar com vigilância, Bíblia em mãos, olhos fixos em Cristo e o coração firmado na promessa.

Portanto, diante de Mateus 7.13-14, fica o chamado: entre pela porta que é Cristo. Ande pelo caminho que é estreito, mas seguro. E persevere até o fim, com os olhos fixos naquele que andou esse caminho antes de nós e nos garante a chegada.

A escolha está diante de nós. Mas lembre-se: só os que foram alcançados pela graça são capazes de escolher o caminho certo. Você está no caminho certo? 

Rev. Aldo Marcos Teixeira