Vivemos em tempos em que muito se fala sobre “adoração”, mas nem sempre com clareza sobre o que ela realmente significa. Há canções, expressões e movimentos religiosos centrados na experiência emocional, mas pouco fundamentados na verdade da Palavra. O Salmo 24 nos convida a olhar além da forma e da emoção para enxergar o conteúdo e o fundamento da verdadeira adoração: o Deus da glória.
Aqui surge uma pergunta essencial: Quem é o Rei da Glória? Como podemos permanecer diante dEle? Essas questões não são apenas teológicas, mas existenciais, porque dizem respeito à comunhão do homem com o Criador. O salmista Davi compôs este cântico quando levou a arca do Senhor de volta a Jerusalém (2 Sm 6; 1Cr 15). A arca representava a presença de Deus entre o Seu povo. Assim, o Salmo 24 é um hino triunfal, proclamando que o verdadeiro Rei da Glória é o próprio Senhor: aquele que reina sobre toda a criação e habita entre os que O adoram com pureza de coração.
1. Quem Estamos Adorando (vv. 1–2)
A adoração começa com o reconhecimento de quem Deus é. Davi declara:
“Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele habitam. Porque ele a fundou sobre os mares e a firmou sobre as águas.” (Sl 24.1-2)
Deus é o único digno de toda adoração. Ele é o Criador, o Sustentador e o Senhor de tudo. Nenhum outro ser, poder ou criatura pode ocupar esse lugar. A adoração genuína nasce do reconhecimento de que tudo pertence a Deus: o tempo, os recursos, a vida, o próprio adorador.
O salmista nos lembra que o lugar é santo porque o Senhor está ali. Não é o espaço físico que santifica o culto, mas a presença de Deus que o torna santo. É por isso que Paulo afirma: “O Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3.17). A adoração verdadeira não começa no templo, mas no coração rendido diante do Deus soberano. É justamente por isso que importa que os verdadeiros adoradores adorem ao Pai em espírito e em verdade (Jo 4.23-24)
Adorar é reconhecer que “a terra pertence ao Senhor, e tudo o que nela há”, inclusive nós mesmos. O adorador não oferece algo a Deus como quem dá algo de seu, mas devolve o que já é do Senhor.
2. Quem é o Adorador (vv. 4–6)
Se o Senhor é o Rei da glória, surge a pergunta: quem pode permanecer diante dEle? O salmista responde com quatro características que descrevem o verdadeiro adorador:
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“Mãos limpas”: refere-se às ações puras, à integridade prática. O adorador não se aproxima de Deus com mãos manchadas pelo pecado não confessado.
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“Coração puro”: fala da disposição interior, da sinceridade e da santidade que brotam de um coração regenerado.
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“Não entrega a sua alma à falsidade”: representa a mente consagrada, livre das ilusões e enganos do mundo.
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“Nem jura dolosamente”: indica fidelidade e compromisso com Deus e com a verdade.
Davi parece, então, confrontar a realidade: ninguém é capaz, por si mesmo, de atender a esse padrão. Os sacerdotes se achegavam, mas não podiam permanecer. Todos pecaram (Rm 3.23). Mas o salmo aponta para Aquele que é digno: o adorador perfeito que não apenas se aproxima, mas permanece eternamente diante de Deus.
Esse adorador é Cristo Jesus. Ele tem mãos limpas, coração puro, alma verdadeira e palavra fiel. Por meio dEle, o homem pode ser aceito na presença de Deus. O adorador genuíno é aquele que, unido a Cristo pela fé, participa de Sua justiça. Assim, “aquele que tem o Filho tem a vida” (1Jo 5.12). A pureza exigida no monte do Senhor não é alcançada pela moral humana, mas recebida pela graça divina. Jesus é o caminho pelo qual podemos adorar em espírito e em verdade (Jo 4.24).
3. Por Meio de Quem Adoramos (vv. 7–10)
Os versos finais apresentam uma cena majestosa: o Rei da Glória entrando pelos portões. É uma imagem de triunfo, poder e realeza. Antes do templo de Salomão, a arca do Senhor era levada às batalhas como sinal da presença divina. Quando a arca foi capturada pelos filisteus, a glória se afastou de Israel (1Sm 4.22). Mas quando Davi reconquista a arca e a traz de volta a Jerusalém, o povo celebra: o verdadeiro Rei está entre nós!
“Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.” (v.7)
Mas quem é esse Rei da Glória?
“O Senhor, forte e poderoso, o Senhor poderoso nas batalhas.” (v.8)
Esse Rei não é Davi. Ele é o Senhor dos Exércitos, o Rei eterno, Cristo Jesus! Quando o Filho de Deus entra triunfalmente em Jerusalém, montado em um jumentinho, cumpre-se a esperança do Salmo 24. Ele é o Rei que venceu o pecado e a morte, e abriu para nós o novo e vivo caminho para Deus (Hb 10.19-25).
A entrada triunfal de Cristo não foi apenas uma cena histórica, mas uma revelação espiritual: os portais do céu se abrem para receber o Rei que venceu a cruz e ressuscitou em glória. É por meio dEle que nós também temos acesso à presença de Deus. Ele é o mediador da nova aliança (Hb 9.15). Assim, todo aquele que está em Cristo pode cantar: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças! Entrará o Rei da Glória!”
Conclusão
O Salmo 24 é um convite à adoração verdadeira, não centrada em nós, mas em Deus. Ele nos ensina que:
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A adoração começa com o reconhecimento do Senhor como Criador e dono de todas as coisas.
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O verdadeiro adorador é aquele que foi purificado por Cristo, o único digno de permanecer na presença de Deus.
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E que toda adoração aceitável acontece por meio de Jesus, o Rei da Glória.
Vivemos tempos em que a adoração se tornou, muitas vezes, um espetáculo humano. Mas o salmo nos chama de volta ao essencial: adorar a Deus com mãos limpas, coração puro e vida consagrada. Que o nosso culto, nossas palavras e nossa vida apontem sempre para Cristo, aquele que é digno de toda glória, honra e louvor.
“Ao Rei dos séculos, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1Tm 1.17)
Rev. Aldo Marcos Teixeira