Em nosso tempo, a dor e o sofrimento ganham destaque em todos os lugares. Parecemos viver num mundo em que o drama da vida ocupa todas as manchetes e todos os corações. E a verdade é que, muitas vezes, quando enfrentamos o sofrimento, nos fechamos em nós mesmos. O que sentimos se torna maior do que qualquer outra coisa. É como se nada mais existisse além dos nossos próprios problemas, da nossa própria angústia.

Nesse momento, esquecemos de olhar para aquilo que Deus prometeu. Esquecemos quem Ele é.

Maria Madalena, no relato de João 20.1-18, vive exatamente isso. Ela se deixa dominar pela dor e, por um momento, esquece as palavras de Jesus, que tantas vezes anunciou que ressuscitaria. Neste sermão, vamos caminhar junto com Maria até o túmulo vazio. E, quem sabe, Deus também abrirá nossos olhos para ver além da dor — para reconhecer a glória do Cristo ressurreto.

Contexto

Desde o Antigo Testamento, Deus já anunciava a ressurreição: os Salmos, os Profetas e todo o enredo das Escrituras apontam para a vitória do Messias sobre a morte. O próprio Senhor Jesus havia dito, repetidas vezes, que morreria e ao terceiro dia ressuscitaria (Mateus 16.21). João, o autor do evangelho, é uma testemunha chave desses eventos. Ele foi o discípulo amado, que correu ao túmulo vazio, viu, e creu. Mas nem mesmo ele entendeu tudo de imediato.

Maria Madalena, uma discípula fiel, também teve um papel de destaque: foi ela quem permaneceu ali, chorando junto ao sepulcro, e foi para ela que Jesus se revelou primeiro. Nosso foco hoje será esse encontro, em especial os momentos de dor, confusão e transformação vividos por Maria. Vamos acompanhar cada um desses momentos:

1. Desespero: Quando a dor nos impede de ver (João 20.11-13)

Maria chora diante do túmulo. O texto grego sugere um choro profundo, um pranto desolado, como de quem não vê mais esperança. A dor era tão intensa que, mesmo vendo dois anjos — algo extraordinário —, ela não se dá conta. Está cega pela tristeza.

Quantas vezes somos assim? A dor nos anestesia. Ficamos tão focados na perda, na ausência, no sofrimento, que não conseguimos enxergar a ação de Deus bem diante dos nossos olhos. Não vemos a Sua providência, não percebemos o consolo que Ele já colocou ao nosso lado.

2. Irracionalidade: Quando o problema nos impede de pensar (João 20.14-15)

Não bastassem os anjos, agora o próprio Jesus está ali. Ele fala com Maria, mas ela ainda não O reconhece. Ela responde como se continuasse buscando um corpo desaparecido.

O sofrimento nos impede de pensar direito. Quando o problema se torna nosso único foco, deixamos de raciocinar à luz da fé. Esquecemos que o nosso Senhor prometeu estar conosco, mesmo no meio das tempestades (Mateus 28.20). Como diz o próprio Cristo em João 16.33: "No mundo vocês terão aflições; mas tenham bom ânimo! Eu venci o mundo."

Jesus não chega com estardalhaço. Não há holofotes. Ele se aproxima com mansidão, porque é assim que Ele cuida dos seus. Sua presença é real, mas muitas vezes discreta — guiando-nos pelo Espírito Santo, e não por espetáculos visíveis.

3. Reconhecimento: Quando ouvimos a voz do Mestre (João 20.16)

Tudo muda quando Jesus chama Maria pelo nome: "Maria!"
A voz é inconfundível. O chamado é irresistível. Como nos ensina o evangelho, o bom Pastor conhece as suas ovelhas, e elas reconhecem a sua voz (João 10.27).

Nesse momento, Maria percebe: é Ele! O pranto se transforma em alegria. A escuridão da morte é dissipada pela luz da vida.

Assim é conosco. Quando o Senhor nos chama eficazmente, nossa alma desperta. Sua Palavra penetra mais fundo que qualquer espada de dois gumes (Hebreus 4.12), rasgando nossos medos, nossas dúvidas, e trazendo-nos para a vida verdadeira.

4. Testemunho: Quando a alegria se torna missão (João 20.18)

A primeira reação de Maria é correr para contar. Ela não guarda para si a alegria de ter visto o Senhor. O testemunho não é apenas um dever: é uma resposta natural de quem foi transformado.

Deus poderia anunciar o evangelho ao mundo sem nós. Mas, em Sua graça, Ele nos chama a sermos participantes de Sua missão (2 Coríntios 5.18-20). Agora, quem já foi alcançado pela ressurreição deve anunciar: Cristo está vivo! A morte foi vencida!

O mundo ainda chora em desespero. Precisamos, como Maria, correr para proclamar que há vida, há esperança, há um Salvador.

Conclusão

Muitas vezes, a dor nos cega. Nos aprisiona em um ciclo de desespero e irracionalidade. Mas o Cristo ressuscitado vem ao nosso encontro. Ele nos chama pelo nome, abre nossos olhos, e nos convida a enxergar a realidade à luz da Sua vitória.

Maria Madalena não ficou parada no pranto. Ela foi testemunha da vida.
Que nós também, hoje, ouçamos a voz do nosso Salvador, recebamos o consolo do Seu Espírito, e corramos para anunciar que Jesus está vivo — para a glória de Deus e a alegria dos Seus filhos.

 

Rev. Aldo Marcos Teixeira